São João da Varjota nasceu do expansionismo agrícola da primitiva Fazenda Varjota, fundada pelo coronel Agostinho Barbosa, cujos restos mortais repousam sobre as antigas terras que outrora administrou. O crescimento da fazenda ocorreu com a repartição de territórios entre filhos e filhas, dando origem a localidades hoje conhecidas como Jacús, Paquetá, Indiassú e Cocal Fechado – este último registrado como o primeiro quilombo do município.
Contudo, é no trabalho comunitário que São João da Varjota revela sua força e notoriedade. Já na primeira metade do século XX, em 13 de maio de 1938, os moradores se reuniram no famoso “arranca tocos”, marcando o início do espaço social que anos depois abrigaria o Mercado Público, inaugurado em 1948.
Ao citar esta pequena cidade do interior piauiense, a religiosidade ocupa lugar central. É aqui que floresceu, sob a sombra do lendário Inharé – árvore majestosa que acolhia os fiéis –, a devoção quase secular a um dos santos mais festejados do Nordeste: São João Batista, carinhosamente chamado pelos habitantes de Senhor São João. Ali, entre cantos e prosas, fé e celebração, a comunidade se consolidou.
No decorrer do século XX, estradas, escolas e a própria Igreja foram erguidas, dando contornos de cidade ao então povoado. Nesse processo de edificação social, destacaram-se personalidades que marcaram a história local: Raimundo José de Siqueira, primeiro vereador e farmacêutico leigo; Raimundo Nonato Barbosa, primeiro prefeito; o professor Clementino José de Siqueira; o padre João de Deus de Carvalho; Irmã Caldas, que hoje dá nome à principal via da cidade; as catequistas Carmen Ribeiro e Rita de Tomé; além das parteiras Tunica do Rêgo e Raimunda Cambota. Cada um, à sua maneira, contribuiu para o fortalecimento cultural, social e político da comunidade.
O grande marco viria em 26 de janeiro de 1994, quando, por meio da Lei Estadual nº 4.680, São João da Varjota foi elevada à categoria de município, conquistando autonomia política e administrativa após décadas de vínculo com a cidade de Oeiras.
A história, no entanto, não se detém. No século XXI, São João da Varjota segue renovando sua identidade. Em 2012, a comunidade Potes recebeu certificação da Fundação Cultural Palmares, passando a integrar oficialmente o mapa piauiense dos quilombos. Outras comunidades também reconheceram suas origens étnico-culturais e se organizaram para garantir o mesmo reconhecimento, reforçando a riqueza cultural sanjoanense.
É desse solo fértil que brotam tradições que ecoam por todo o Piauí: a produção artesanal em argila – herança quilombola que une saberes indígenas e africanos no sertão –, o trabalho manual com palha, a agricultura diversificada e as iguarias que carregam o sabor da terra, como os doces caseiros, a cajuína e a famosa galinha caipira de São João.
Concluir a história de São João da Varjota é compreender que este município não se define apenas por datas ou fatos, mas pela força de um povo que soube transformar trabalho, fé e tradição em legado. Entre o passado marcado por raízes quilombolas e o presente que se renova em cultura e devoção, a cidade segue erguendo-se como um testemunho vivo da resistência sertaneja. Cada festa, cada canto e cada gesto comunitário reafirma que São João da Varjota não é apenas um lugar no mapa do Piauí, mas um espaço de memória, identidade e esperança, onde o futuro se constrói com a mesma coragem que moldou sua origem.